terça-feira, 21 de março de 2017

ISRAEL E A PULSOM ETNOCENTRISTA

Shlomo Ben Ami

Netanyahu está a fazer recuar a qualidade democrática dum país que tem umha ligaçom vital com Ocidente. Os seus ataques à liberdade de imprensa ou o seu assédio à cultura nom som muito diferentes ao doutros países que recebem sanções.

Após meio século ocupando o território palestiniano, Israel está a sucumbir às suas mais profundas pulsões etnocentristas e está a rejeitar progressivamente as fronteiras reconhecidas. E agora acha-se no caminho de aderir o clube das democracias iliberais graças ao primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

No decurso dos seus onze anos como primeiro-ministro, Netanyahu reformou a psyché coletiva do país. Exaltou o isolado, traumatizado "judeu" (que se opõe ao "gentio", por nom dizer aos "árabes") sobre o laico, global e globalizado "israelita" enxergado polos pais fundadores do país.

Netanyahu mesmo é um cínico hedonista laico que encara umha investigaçom sobre a sua pressumível aceitaçom de generosas prendas ilegais por parte dum multimilionário de Hollywood. Mais gosta de jogar a "carta judia" no seu proveito. Em 1996 a sua promesa de ser "bom para os Judeus" levou-o ao poder. Em 2015, a sua advertência de que os Judeus deviam correr a votá-lo ou o seu destino ficaria em mãos de "rebanhos" de Árabes presumivelmente acarretados até os colégios eleitorais.

E ao igual que apelar para o elemento judeu do povo ganha eleições, bloqueia as negociaçõs para umha soluçom ao conflito israelo-palestiniano. A teimosia de Netanyahu de que os palestinianos reconheçam a Israel como um Estado judeu em 2014 foi a gota que rebordou o copo num processo de paz agonizante.

Netanyahu prefere muito mais o palavreado de Trump do que o liberalismo profissional de Obama

Em muitos sentidos, o perfil político de Netanyahu liga-se ao dos republicanos estado-unidenses mais duros. A mulher dele umha vez vangloriou-se de que, como ele nascera nos EUA, poderia ter sido presidente desse país. Provavelmente ele teria preferido essa vida, sobretodo polo poder absoluto que lhe proporcionaria. Também ter-lhe-ia evitado oito frustrantes anos de raiva pessoal com o presidente Barack Obama.

Seja como for, agora Netanyahu sente-se aliviado ao ter a Donald Trump na Casa Branca, um republicano que pensa como ele e que é, praticamente em tudo, o posto a Obama. O anterior presidente dos EUA mostrou empatia polas minorias e os imigrantes, defendeu os direitos civis e humanos, conseguiu progressos diplomáticos com o Irão, procurou a paz na Palestina e, o mais problemático de tudo, tentou que o líder israelita agisse responsavelmente. Um dos últimos atos de Obama como presidente foi fazer com que os EUA se abstivessem numha votaçom dumha resoluçom do Conselho de Segurança das Nações Unidas contra a construçom de assentamentos israelitas nos territórios ocupados em vez de a vetar.

Netanyahu prefere muito mais o palavreado de Trump ao liberalismo profissional de Obama. Com efeito, Trump e Netanyahu têm muitas cousas em comum, tanto entre eles como com outros líderes iliberais como o presidente turco Recep Tayyip Erdogan. Os três acham a aberta hostilidade contra a mídia como um meio para se assegurar e consolidar o seu poder. Noutras palavras, Trump lançou umha "guerra contra os meios". Pola sua parte, Erdogan reprimiu a liberdade de imprensa detendo jornalistas sob a acusaçom de cumplicidade com o golpe militar fracassado do passado julho. 

Netanyahu age como ministro de comunicações de Israel desde finais de 2014. Nom é difícil seguir o fio. Supõe-se que a mídia fiscaliza aos que estám no poder. De modo que estes tentam calá-los. Umha maneira de o fazer é amplificar as vozes que espalham alternativas mais favoráveis, como Israel Hayom, um jornal gratuito em hebraico dedicado a cantar loubanças a Netanyahu.

O objetivo deste folheto ao estilo norte-coreano nom é obter lucros. Em 2014 Sheldon Adelson, umha magnata estado-unidense dos casinos que durante muito tempo apoiou Netanyahu e também ajudou a financiar a campanha de Trump, investiu 50 milhões de dólares em Israel Hayom, que perdeu mais de 250 milhões de dólares desde o seu lançamento em 2007. Netanyahu adiantou umhas eleições em 2014 para proteger o seu alti-falante, que agora ostenta a maior tiragem da imprensa israelita, dumha iniciativa parlamentar que ameaçava com dificultar-lhe as cousas. Netanyahu sempre negou que tivesse algo a ver com Israel Hayom, ainda que ele é praticamente o seu diretor. Em qualidade de que outro cargo poderia ter discutido com o proprietário do seu principal concorrente, Yedioth Ahronot, a possibilidade de reduzir a distribuiçom de Israel Hayom em troca dum tratamento mais favorável?

Mas, por suposto, Netanyahu nom está a fazer todo o trabalho sujo ao empurrar Israel cara o iliberalismo e a censura e o assédio nom estám reservados exclusivamente à mídia. Naftali Bennet, líder do partido Casa Judaica, um aliado chave na coaligaçom de extrema-direita de Netanyahu e a voz cantante da anexaçom das terras palestinianas, agora ordena às escolas que "estudar o judaismo é mais importante do que as matemáticas ou ciências". Um romance que narra um namoro entre um garoto palestiniano e umha gaja judia foi banido do programa escolar. À ministra de Justiça, Ayelet Shaked, também militante de Casa Judaica, nom a supera ninguém no seu ardor ultrassionista. Agora encabeça um ataque contra a última fronteira da democracia israelita, o Supremo Tribunal, criticando-o por decisões como a declaraçom de inconstitucionalidade do passado abril respeitante à política israelita sobre o gás natural. Mais recentemente, Shaked aprovou a Lei de Lealdade na Cultura, que estabelece na "lealdade" do receptor ao Estado judeu o baremo do financiamento cultural governamental. Por enquanto, grupos de extrema direita que apoiam a anexaçom seguem a receber um chorudo apoio tanto do Governo quando de doadores judeus estrangeiros. A noçom de lealdade nom apenas é usada como arma de arremeso contra os artistas. Umha nova lei, claramente encaminhada aos reprsentantes árabe-israelitas no Parlamento (Knesset), permitiria demitir os parlamentares por deslealdade ao Estado. As ONGs centradas nos direitos humanos e na procura da paz som investigadas como se fossem agentes estrangeiros.

Para Israel a democracia foi sempre um bem estratégico porque um Israel democrático tem um encaixe natural na aliança de Ocidente. Enquanto este nom perde o tempo em impor sanções à Rússia de Vladimir Putin pola anexaçom da Crimeia, nom castigou a ocupaçom israelita de terras palestinianas. Seja como for, quanto mais abraçar Israel práticas inspiradas em Putin, mais fraco se torna na sua ligaçom com a sua retaguarda estratégica em Ocidente. Haveria que ver se o imprevisível Trump irá cumprir as expectativas de Israel. O que é certo é que enfraquecendo as suas credenciais democráticas Israel põe em causa a sua ligaçom vital com Ocidente, incluindo os EUA pós-Trump.

Shlomo Ben Ami foi ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel e é vice-presidente do Centro Internacional Toledo para a Paz

2 comentários:


  1. MANOSTAXX
    Europe’s oldest cities
    Les plus anciennes villes d'Europe
    As cidades mais antigas da Europa
    https://producaoindustrialblog.wordpress.com/2016/12/25/europes-oldest-cities/

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  2. Aqui no Brasil ainda se conserva o sentido original da palavra "liberalismo" de liberalismo econômico evoluindo para liberalismo político, onde acarreta o sentido de liberdades econômicas até liberdades sociais. Muito diferente do sentido de "liberalismo" americano, que só tange em liberdades sociais porém colocando parte da sociedade como protagonistas e outra como antagônicas.

    A acusação ao senhor Netanyahu é muito grave. O autor deste artigo deve trazer as claras documentos públicos do governo israelita que comprovam que houve a passagem de verbas públicas para essas mídias alternativas, como Israel Hayom, porque financiamento privado de terceiro para bajular burocrata não é crime. Só é crime para os relativistas, que se o mesmo ocorrer com os burocratas favoritos deles, eles não reclamam, porém como acontece com os burocratas da oposição, o criticam.

    Depois que vi a apresentadora dum programa infantil da televisão palestina dizerem para as crianças para lutarem contra o "invasor" para terem o acesso ao mar, sendo que a resolução da ONU de 1947 que dividia a terra entre Judeus e Árabes em não tem mar para os Árabes, com exceção da Faixa de Gaza, qualquer um percebe que eles, os palestinos, não querem a solução de dois Estados, eles querem simplesmente que não exista um Estado judeu naquela área.

    Como o próprio profeta Maomé disse que toda e qualquer religião que não seja a do seu mensageiro, Maomé, na península arábica será exterminado, a existência de outras religiões como o Judaísmo, é mal vista para os seus seguidores. Bons são aqueles muçulmanos que não seguem o discurso dos ímãs que apregoam este desejo de Maomé, e vivem em paz com judeus e cristãos.

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